Carma – A causa e o efeito na sua vida
Proust, escritor francês e autor do romance, “Em Busca do Tempo Perdido” disse acertadamente:
“Não deveríamos precisar de um cataclismo para amarmos a vida hoje. Deveria ser suficiente pensar que somos humanos e que a morte pode chegar esta noite.”
Estou certo que já ouviu falar do conceito oriental: Carma. No senso comum ouvimos coisas do género: “Neste momento estou a sofrer o meu Carma”; “Tens um Carma muito pesado”; “É o castigo do teu Carma, tens de aguentar…”; “Não podes reclamar está a pagar um Carma pelo mal que fizeste no passado.” Eu imagino que estará a pensar como eu, será mesmo assim?.. Acredita realmente que estamos na vida para sofrer uma espécie de castigo, por algo que deixamos de fazer no passado?.. Na realidade, não creio no determinismo de uma existência passada embebida em castigo ou mergulhada na dor. Inegavelmente, parece-me que talvez seja o contrário, estamos na vida para viver a felicidade. Senão vejamos, na minha experiência como psicoterapeuta de regressão, deparo-me com mensagens dos pacientes que em estado de transe dizem algo do género: “O Carma é para ser resolvido e não para ser sofrido”. Pense nisto mais uma vez: “O Carma é para ser resolvido e não para ser sofrido”. Admito que talvez possa discordar de mim, provavelmente devido a privações, problemas e dores pelo qual tem passado ao longo da sua vida. Mas, admitamos que efectivamente o Carma possa ser resolvido no seu momento presente. Será que isto lhe interessa? Então este texto é para si. Acompanhe-me numa história real que descreverei em baixo. Obviamente, com algumas pequenas alterações com o intuito de proteger a privacidade do paciente.
João Paulo – nome e profissão fictícios – era um belo jovem de 26 anos, recém-formado em gestão de empresas. Mas, como a maioria dos jovens na actualidade, vivia a tremenda saga do desemprego. Após anos a estudar afincadamente na faculdade, deparou-se com a dura realidade de não encontrar um emprego, mas pior isso, encontrava-se sem objectivos de vida. Naquele dia entrou no meu consultório desconfiado e desanimado pelo seu infortúnio. Olhei-o nos olhos, quando se afundou sem dizer uma única palavra na confortável poltrona, enquanto a sua mãe me explicava o drama familiar de uma tremenda depressão que levou o seu filho a várias tentativas de suicídio. A última das quais, acontecera à menos de três semanas, com uma mistura excessiva de álcool e medicamentos e que lhe provocou o coma e a necessidade de uma ida urgente ao hospital para se salvar. Naquele momento recuperava após uma lavagem gástrica na tentativa de aspirar a intoxicação por via digestiva e que o deixara debilitado.
Finalmente, após ser convidado para falar, desabafou que estava ali como a última tentativa e que estava farto de viver. Referiu que não valia a pena o esforço para mudar, pois já tinha recorrido a vários tratamentos, e que nada lhe fazia levantar o ânimo. Notei, o seu falar era lentificado e o pensamento “arrastado”, provavelmente, fruto da forte medicação que tomava para a sua Depressão Major que sofria desde os 19 anos de idade. Na minha análise clínica reparei que, para além de ser muito introvertido, Paulo não lidava muito bem com o sentimento de perda dos seres que amava. Tomei nota da primeira tentativa de por cobro à sua vida. Ela tinha ocorrido 7 anos antes, Paulo estava desesperado devido ao falecimento do seu adorado avô. Inesperadamente, tudo aconteceu de uma forma dramática, ao ser diagnosticado um cancro metástico no pulmão do avô materno e que o levou à morte em menos de seis meses. Na verdade, era um jovem com muita baixa auto-estima e seguramente, o seu adorado avô era o seu porto seguro, amigo e companheiro. Na medida que o seu pai sempre esteve ausente emigrado no estrangeiro. Recorreu à Terapia de Vidas Passadas, por imposição da mãe e também como derradeira oportunidade de encontrar uma razão válida para continuar a viver.
“Se esta terapia não me ajudar” – disse ele sem tirar os olhos do chão -, é uma questão de tempo até por fim à minha vida.” A sua mãe olhou-me piedosa como a implorar ajuda. Finalmente, pedi-lhe que nos deixasse sós para encetar a terapia.
Na subsequente sessão de hipnose de regressão, e para seu espanto, recordou algo estranho e que lhe parecia decorrer numa outra época mais antiga. Aparentemente, estava a viver uma experiência de vidas passadas verificando que também se tinha suicidado nessa vida anterior. Em regressão, viu-se como um jovem monge descalço e vestido com uma túnica colorida, na imponente e misteriosa Índia antiga. Disse-me que aparentava cerca de 20 anos e estava a sofrer terrivelmente porque não conseguir salvar o seu adorado mestre. Pois este acabara de morrer de uma epidemia que assolava a região onde viviam. Não suportando a dor de ter ficado só, e sentindo-se doloroso por não salvar com os seus vastos conhecimentos o seu querido e amado mestre, suicidou-se com um preparado de chá de Cicuta – um poderosíssimo e mortal veneno. Mortificado pelo seu sentimento de perda descreveu-me em transe o momento da sua morte e, como após ter ingerido veneno extraído da própria planta Cicuta, começou a ficar frio e enrijecido, até que o poderoso veneno chegou ao seu coração e sobreveio a morte num estertor agonizante.
Quando finalmente estava a flutuar sobre o seu corpo contorcido, veio ao seu encontro o seu mestre envolto num halo de luz. E o que se passou de seguida deixou-nos estupefactos. Alertou para o erro de se ter suicidado. Assegurou-lhe que a responsabilidade pela sua morte não era dele, mas um desígnio da própria Alma do seu mestre que tinha algo a aprender com aquela experiência. Avisou também que num futuro iria repetir o mesmo padrão cármico, em virtude de ter interrompido a sua vida nessa experiência terrena. Pois aquela existência passada na Índia, devido a ter cometido o suicídio, não foi proveitosa o suficiente para a sua total e completa evolução.
“A Alma é sábia e busca sempre a iluminação através das experiências interpretadas e ultrapassadas.”-, disse-lhe o seu mestre num mundo notável de luz. “O suicídio que cometeste interrompeu a tua evolução como ser criador de intemporalidade espiritual.” -, Argumentou compassivamente o seu mestre envolto na luminosidade mais brilhante.
De facto, aquela sessão ocorreu de uma forma que nem eu conseguia prever. Mas há muito que aprendi que a Alma tem a sua agenda própria. Na realidade, a maioria das vezes os terapeutas de regressão são apenas facilitadores num processo de cura notavelmente espiritual. No seu processo de regressão ao passado, aquele paciente foi capaz de identificar o padrão recorrente e compreendeu o primordial objectivo, a sua missão da vida actual: – “Alertar as pessoas para a dádiva que é a vida.” – Disse-me ele, quando finalmente acordou do transe no final da regressão.
Efectivamente, ao despertar da hipnose de regressão estava claramente feliz, com uma convicção inabalável de ter encontrado um rumo e, sobretudo, descoberto um objectivo válido para a sua vida. Eu, obviamente, também estava feliz pela evolução rápida do seu caso, mas o inesperado aconteceu. Na semana seguinte, sem ninguém estar à espera, morreu um seu familiar muito próximo. Como o paciente tinha dificuldades com o sentimento de perda, e esse dramático acontecimento aconteceu logo a seguir à nossa regressão, fiquei naturalmente preocupado: – “Como irá ele reagir à morte do ente querido? -, pensei preocupado. Recebi-o três dias depois.
Gostaria de partilhar consigo uma das maiores lições que fui capaz de aprender nesta notável terapia de ressonância espiritual. Eis então as palavras dele quando se sentou à minha frente, para uma nova sessão de regressão:
“Esta semana a morte passou perto de mim. Veio buscar um primo, um pouco mais velho que eu. Sabe, Dr. Alberto, curiosamente nunca tive medo da morte, aliás confesso que tinha vontade de morrer, tal a falta de sentido que sentia para a minha vida. Mas hoje sinto um respeito profundo por ela. Talvez até um pouco de medo. Medo por pensar que não há amanhã. E, se hoje morresse, morreria sem transmitir tudo o que me foi revelado na minha regressão. Medo de não ter tempo para fazer emergir o amor espontâneo que cada ser humano possui, no mais íntimo do seu ser. Esta semana o impensável aconteceu. Fui capaz de ajudar a minha família na dor da perda, no seu luto, como jamais poderia supor. E sinto-me grato, à nova vida revelada na última sessão, por isso. Sinto-me tão feliz e preenchido de amor por poder ajudar os outros… sinto que descobri a minha missão, e estou grato à Terapia de Vidas Passadas esta suprema felicidade”-, dizia-me naquele momento, lavado em lágrimas e absolutamente comovido de felicidade pela oportunidade maravilhosa de ajudar ao próximo. “Faz muito sentido a razão da minha existência, e o padrão de vida que atraí para mim. – Disse-me olhando-me profundamente nos olhos. – “Sei agora que a vida é uma dádiva para apreciarmos em toda a plenitude.” -, Acabou por concluir claramente emocionado. Finalmente, ele tinha percebido que todos somos capazes de distinguir horizontes longínquos, se escutarmos novamente a voz sábia da nossa Alma – geralmente agrilhoada em padrões cármicos e situações mal resolvidas do passado. Lembre-se, mais uma vez, “o carma é para ser resolvido e não para ser sofrido”.
Existem duas leis básicas no Universo: causa/efeito (Carma) e livre-arbítrio (Dharma). Assim, ouso fazer-lhe esta pergunta. Ainda acredita que estamos na vida para ser castigados e/ou para pagar uma dívida Cármica?.. Peço-lhe perdão, mas não creio ser essa a função do Carma. Mas afinal qual é a função do Carma?-, pergunta-me você! Carma é uma antiga palavra em Sânscrito que etimologicamente significa: “uma acção que gera uma reacção”, isto é, uma causa que gera um determinado efeito. Mas ao contrário do que alguns pensam o Carma não tem a ver com castigo, mas oportunidades de mudança, verdadeiramente, significa aprendizado. No conceito oriental Carma significa uma acção que gera uma reação. Ou seja, cada pensamento e cada ação tem consequências inevitáveis no futuro. Mas Paulo percebeu numa regressão que o Carma é uma oportunidade de redenção e de mudança. Uma oportunidade para fazer a diferença na escola da vida, aprender a praticar o amor e o perdão. Somos responsáveis pelas nossas acções e devemos também ser responsáveis pelas consequências nefastas que elas provocam nos outros. O homem, pelas suas escolhas, é o criador do seu próprio destino. As representações erradas que ele fizer das suas experiências passadas é o que irá encontrar na sua nova jornada terrena. Se valorizou o amor no passado, atrairá experiências com mais amor e será abençoado pelos seus poderosos efeitos. Mas se nas vidas passadas prestou atenção ao medo e morreu na revolta, atrairá estas experiências de novo na sua vida presente. A minha experiência como terapeuta de regressão tem demonstrado que este é o conceito de Carma. Quer dizer, esta é a forma que a Alma, essa energia intemporal, encontrou de encarar os acontecimentos e experiências do passado como padrões que deve ultrapassar no futuro. E, todavia, cada padrão compreendido é ultrapassado e a Alma regozija de alegria e evolui exponencialmente. Por isso a regressão é tão poderosa leva à tomada de consciência e liberta a Alma. Após uma regressão a Alma fica “lavada” torna-se claramente maior na sua evolução espiritual.
Na realidade, podemos até ignorar que o Carma não existe, mas ele continua a fazer os seus efeitos e a condicionar a sua vida, a minha vida, a vida de todos nós. E, no entanto, eu creio que a principal função do Carma é proporcionarmos as experiências que nos propusemos ultrapassar nas existências passadas. Na realidade, sempre atraímos para nós aquilo que mais precisamos para evoluir na senda espiritual.
Sabemos agora o que é o Carma, mas certamente quererá perguntar. O que é o Dharma?.. Dharma é o nosso desígnio espiritual em direcção à imortalidade. Ou seja, é uma espécie de mapa onde nos podemos orientar para evoluirmos mais rápido em direcção à Casa Cósmica. Mas sempre podemos escolher vários caminhos (livre-arbítrio) para lá chegar. Pois, mais importante que a velocidade na nossa caminhada, o mais importante está em fazer os movimentos em direcção à fonte espiritual de onde todos provimos. Somos responsáveis pelo planeta, pelos outros, pela sociedade e por nós mesmos. Assim, a função do Dharma para a Alma é um desejo intrínseco de ela ser melhor. De se projectar no amor. De fazer parte de uma projecto altruísta do qual possa se apaixonar e engrandecer-se com as suas experiências arrebatadoras. De partilhar afectos, sonhos evoluir e crescer em reciprocidade com Almas Companheiras. De ser maior do que os seus medos. Maior do que a sua revolta. Maior do que a sua solidão. De ser uma verdadeiro Ser de Luz em busca de aprimoramento espiritual. Não é isso mesmo que estamos todos interessados nesta maravilhosa demanda espiritual?
Tenho de vos confessar após a regressão notavelmente libertadora daquele jovem suicida, da minha parte, pouco fiz para operar esta tremenda mudança. Sei, sem dúvida, que todo o processo de mudança estava no seu interior. Bastava apenas alguém reconectar com o seu Carma mal resolvido do passado para ele finalmente exercer o seu Dharma. E, atentemos, isso também podia ter acontecido naturalmente numa oração, meditação numa sessão de Reiki ou numa qualquer experiência ou terapia de cariz transcendente e reveladora da sua natureza imortal. Eu apenas fiz o menor: abrir a porta daquele vasto reservatório de recursos e saberes ancestrais, através de uma técnica antiga e de matriz notavelmente espiritual. Sim, porque ao contrário do que possa pensar, não estamos a falar de um processo terapêutico novo. A hipnose de regressão é tão antiga como a própria humanidade. E é esta a base com que faço qualquer terapia de regressão. Na realidade, somos todos auto-curáveis e a cura encontra-se no seu interior a espera de ser revelada. Sabendo à partida que como seres físicos somos transitórios, mas como seres espirituais somos eternos. E penso que é importante descobrir na caminhada pela vida que somos seres espirituais a viver uma experiência terrena com o intuito de evoluir na escola da vida. Estou em crer que no interior de cada um existe um gigante de luz que ultrapassou eras longínquas para se revelar no agora. A hipnose de regressão permite buscar a nossa eternidade perdida na sabedoria das brumas dos tempos, mas descobri-la com sabedoria espiritual.
Numa terapia de regressão concentramos num nada a vida toda. Aquilo que venho constatando é que quem faz uma terapia de regressão, através da hipnose regressiva, a dádiva da vida subitamente desabrocha maravilhosamente e rapidamente desperta todos os projectos, sonhos, paixões que o medo causado pela existência de uma certa apatia vai adiando incessantemente. Naturalmente, um trabalho terapêutico regressivo temos o privilégio de compreender, mudar e escolher caminhos mais saudáveis dando substância à existência de uma realidade que desejaríamos. Como refere sabiamente Oscar Wilde: “A experiência é o nome que damos aos nossos erros.” Não interessa as dificuldades por que passou. Não interessa as circunstâncias onde vive. Não interessa o que foi e que tipo de erros cometeu. Não interessa o que eles dizem, nós sabemos que o mundo pode mudar. Com esta poderosa terapia finalmente cada um de nós poderá conhecer a sua natureza espiritual. Pois entendo que estamos na vida não apenas para saber a verdade, mas sobretudo para experienciar a verdade de um gigante de luz que atravessou eras longínquas para fazer a diferença no presente, na busca de um mundo melhor.
Após constatar a natureza imortal, numa regressão ao passado, descobrimos que dentro de cada um de nós existe paixão. Dentro de cada um de nós existe esperança. Dentro de cada um de nós existe vontade de mudar o mundo. E quando ouvir os outros dizer que é apenas mais um a tentar mudar o mundo, responda que é apenas mais um a acreditar que o mundo pode mudar. Jamais se esqueça que você é o projecto mais importante da sua Alma. E se está aqui é porque o mundo pode mudar com a sua presença, com as suas palavras e as suas ações. Faz parte da natureza humana mudar, com pouca coisa se pode mudar o mundo e como por milagre a mensagem encontra sempre o seu caminho. As coisas podem mudar e o sonho de um mundo repleto de paz e harmonia é possível pois a serena beleza de existir só faz sentido quando se está livre para sonhar com um mundo novo. Ai de nós se não sonhássemos pois na verdade, um sonho sonhado sozinho é apenas mais um sonho, mas um sonho partilhado é o suficiente para mudar o mundo.
Dizem que para encontrar é preciso deixar de procurar. O que quer que procure na vida, lembre-se sempre: esta existência não é lugar de mera passagem, mas de construção espiritual. Talvez porque somos seres fazedores de eternidade caminhando na escola da vida, mesmo que a velocidade diferentes.
Um abraço de luz bem forte e apertado e obrigado por existir.
Alberto Lopes
Comments (4)
Absolutamente fantástico este texto! Concordo plenamente com as duas ideias expostas no texto, que o “Carma é para ser resolvido e não para ser sofrido” e também com a ideia que “somos todos auto-curáveis e a cura encontra-se no seu interior à espera de ser revelada”. Parece-me que, quando os sentimentos negativos limitadores ou traumas que tivemos (ou outra razão qualquer) nos afastam ou repetem aquilo que viemos cá para ultrapassar, começam a aparecer as doenças como forma de nos “acordar” para algo que temos de aprender. Se conseguirmos voltar ao “nosso caminho”, as mesmas podem desaparecer tal como apareceram, e creio que todas as doenças podem ser ultrapassadas se nós nos conseguirmos realinhar, mas não é fácil sozinho. A hipnose pode ser uma ferramenta muito boa nessa aproximação das pessoas ao seu lado espiritual…
Gratos pelas palavras Carlos! 😉
Bom dia
Um belo texto para descrever o que andava a sentir. Sou mestre em reiki, fiz mindfulness, agora iniciada em hipnose. Após trabalhar em mim com os ensinamentos recebidos, havia uma noção de que a minha vida fluia melhor. Eu que sempre andei “presa” no carma, a tentar aprender tudo sobre carma, surgiu-me a dúvida: e se a regressão ajuda no carma? Hoje não tenho duvida. Não basta chorar, é preciso ressignificar.
Grata por esta partilha tão importante.
Olá Paula para a podermos ajudar por favor contacte-nos:
Clínica Dr. Alberto Lopes
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