Ao pensar nas férias, muitos de nós visualizamos uma espécie de bolha reconfortante, um pouco como aquele edredão quente que nos envolve numa manhã fria de inverno. Afinal, quem não anseia por aquele respiro, aquela escapadinha da azáfama do quotidiano? No entanto, e eis o “mas” da questão, ao regressar, somos confrontados com uma realidade inescapável: a saudade da liberdade, do nosso tempo à deriva, da genuína espontaneidade, e, pasme-se, daquele sol que nos acaricia e das pessoas que, durante um breve período, tornaram-se quase família. Imaginem que as nossas férias são como um livro favorito. Enquanto estamos imersos nele, somos transportados para outro mundo, alheios aos problemas e conflitos da vida real. Mas, ao fechá-lo (ou ao regressar ao trabalho), esses conflitos, que tinham sido habilmente “arrumados” na prateleira da nossa mente, começam a chamar a atenção, e por vezes, com um volume quase ensurdecedor. Embora seja vital distinguir entre tristeza transitória e depressão clínica, a transição de um período de descanso para o ritmo habitual merece uma análise mais profunda. Nesta discussão convocamos um especialista para explorar este fenômeno, Alberto Lopes, neuropsicólogo |hipnoterapeuta clínico. Segundo o renomado especialista, “Olhando para o intrincado emaranhado que é o nosso cérebro, imagine que ele é como um velho rádio. Durante as férias, sintonizamos uma estação relaxante, com sons da natureza ou melodias calmas. Contudo, ao voltar à rotina, é preciso girar o botão novamente, tentando sintonizar na estação “trabalho” sem interferências.” Por isso mesmo, não é de admirar que este ajuste possa causar um bocado de fadiga, como quando tentamos encontrar aquela estação perfeita, mas o sinal insiste em falhar.
É comum ouvirmos a expressão, “fiquei mais cansado após as minhas férias”! Por estranho que pareça, a transição das férias para a rotina do trabalho pode provocar um sentimento de cansaço e desânimo. As férias são vistas por muitos como uma oportunidade para escapar das exigências do dia a dia, relaxar e revitalizar-se. No entanto, a transição de volta à rotina pode, para muitos, ser um período marcado por sentimentos de cansaço, desânimo e até tristeza. Mas por quê? Para compreender esse fenómeno, é crucial olhar para as diferentes perspetivas oferecidas pelo especialista em hipnose clínica.
1. Por que é que nos sentimos cansados após as férias? Não deveria acontecer o oposto?
R: Após as férias, muitos são os sentem cansaço e tristeza devido à perda de liberdade, tempo livre e conexões rejuvenescedoras. Esse retorno pode ser comparado a um “miniprocesso de luto”, evocando desânimo e falta de tempo para si. Além disso, conflitos internos, temporariamente esquecidos nas férias- como conflitos familiares e/ou no trabalho, podem ressurgir, agravando a sensação de desalento e impotência. Psicologicamente falando, alterações de rotina requerem readaptação emocional, podendo causar fadiga quando se retoma às rotinas de trabalho. Gosto de fazer analogias, nesse sentido, imaginem que as nossas férias são como um livro favorito. Enquanto estamos imersos nele, somos transportados para outro mundo, alheios aos problemas e conflitos da realidade. Mas, ao fechá-lo (ou ao regressar ao trabalho), esses conflitos, que tinham sido habilmente “arrumados” na prateleira da nossa mente, começam a chamar a atenção, e por vezes, com um volume quase ensurdecedor. Resumindo, enquanto as férias são o nosso refúgio, o regresso é o despertar, por vezes abrupto, para a realidade.
2. A tristeza quando voltámos ao trabalho também é como uma depressão momentânea? Por quê?
R: O desânimo sentido por muitos ao regressar das férias pode ter raízes mais profundas do que parece à primeira vista. Este estado de espírito pode ser um reflexo de conflitos internos e desejos que, temporariamente, colocamos em pausa durante o descanso. As férias funcionam, para alguns, como um parêntese que permite esquecer, por momentos, os dilemas não resolvidos. No entanto, ao regressar, essas questões, outrora adormecidas, emergem com renovada energia, lembrando-nos da realidade que havíamos deixado em suspenso. Ou seja, esta transição abrupta pode dar a sensação de uma “mini depressão”, trazendo tristeza e desanimo. As mudanças de ambiente e rotina, por mais agradáveis que sejam, exigem uma reconfiguração da atividade cerebral. Quando voltamos à rotina, o cérebro precisa se readaptar, e isso pode causar alguma fadiga mental.
3. Como podemos contornar esta situação?
R: Como verificamos, ao desfrutar do relaxamento das férias, experimentamos de uma sensação de euforia momentânea. Infelizmente, ao confrontarmo-nos com o retorno ao trabalho, o mesmo cérebro enfrenta o desafio de se reconfigurar para a rotina habitual. Embora possa ser uma experiência desafiadora para muitos, o retorno também oferece uma oportunidade para a introspeção e crescimento pessoal, já que permite analisar o que realmente queremos. É tempo para nos questionar se o trabalho que realizamos realmente nos preenche e nos faz sentir alinhados com um propósito, como pessoa e profissional. A chave está em compreender que cada indivíduo reage de forma diferente, em encontrar estratégias que se alinham com as necessidades individuais.
Convenhamos, o maior desafio é, como ajustarmo-nos emocionalmente a este retorno? Uma técnica bem interessante é o uso da hipnose clínica para e perceber e ajustar o nosso estado emocional. Esta oferece uma visão alternativa sobre o desafio da transição pós-férias. Utilizando a hipnose e os diversos estágios de transe e a flexibilidade emocional que a hipnose proporciona, o uso da hipnose permite, ao invés de ver esse desânimo e cansaço como um problema, podemos vê-lo como um convite para uma introspeção e crescimento pessoal. Por exemplo, a técnica de progressão ao futuro, bem como o uso de linguagem metafórica, podemos incrementar aquilo que chamamos “o sucesso sucedido”. Além disso, as sugestões pós-hipnóticas permitem que o indivíduo faça uma jornada interna, encontrando as suas próprias respostas e perspetivas renovadas para enfrentar a realidade do dia a dia. Concluindo, seja através da psicoterapia, da análise profunda dos próprios sentimentos com o uso da hipnose, da compreensão ou da prática de técnicas simples como mindfulness, a transição das férias para a rotina pode ser diferenciada e com inteligência emocional. Reconhecer o desafio é o primeiro passo para enfrentá-lo com resiliência e sabedoria. Para muitas pessoas, entender os motivos subjacentes aos sentimentos pós-férias é apenas metade da batalha. A outra metade envolve implementar estratégias práticas que possam ajudar a aliviar a transição. Para evitar uma sensação de fadiga recomendamos algumas dicas de fácil aplicação, a que chamaremos:
Estratégias para uma Transição Suave das Férias para a Rotina de Trabalho
- Gradualidade: Evite voltar ao trabalho imediatamente após o fim das férias. Se possível, retorne alguns dias antes e permita-se adaptar-se gradualmente à sua rotina. Isso pode envolver arrumar a casa, fazer compras para a semana ou simplesmente reajustar o seu relógio biológico.
- Organização: Antes de sair de férias, tente deixar a sua área de trabalho organizada e uma lista de tarefas para quando retornar. Ter uma visão clara do que precisa ser feito pode reduzir o stresse e a sensação de ser “sobrecarregado” ao voltar.
- Conexão Social: Converse com colegas de trabalho sobre as suas experiências de férias. A partilha de memórias agradáveis pode tornar a transição mais suave e criar um ambiente de trabalho positivo.
- Defina Limites: Evite levar trabalho para casa nos primeiros dias após as férias. Dê a si o tempo para se adaptar sem a pressão adicional de prazos iminentes.
- Autocuidado: Continue a praticar atividades que proporcionem relaxamento e bem-estar. Seja uma caminhada ao ar livre, meditação, leitura ou exercícios, manter hábitos saudáveis pode ajudar a contrabalançar a pressão da rotina.
- Reavaliação de Metas: Veja o período pós-férias como uma oportunidade para reavaliar as suas metas e prioridades. Estar revigorado após o descanso pode oferecer uma nova perspetiva sobre o que você deseja alcançar e como planeia fazê-lo.
- Planeie as Próximas Férias: Ter algo para esperar pode amenizar a tristeza do fim das férias. Mesmo que seja uma pequena escapadela de fim de semana, o simples ato de planear pode elevar o seu ânimo.
Em suma, enquanto as férias são o nosso refúgio, o regresso é o despertar, mas para alguns algo abrupto, para a realidade. Mas se seguir as dicas oferecidas, a transição das férias para a rotina de trabalho não precisa ser marcada por tristeza, cansaço e desânimo. Reconhecendo os desafios inerentes a essa mudança e empregando estratégias eficazes, é possível fazer dessa transição um processo mais gerenciado e até enriquecedor para se alinhar com o seu propósito. A chave é a proatividade e o autocuidado contínuo e a hipnose clínica pode ser a solução nova para problemas antigos. No fim de contas, sejamos honestos, quem não sentiria um bocadinho de cansaço depois de tal viagem emocional?
Alberto Lopes – neuropsicólogo/hipnoterapeuta
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