1. Não sendo propriamente um diagnóstico clínico formal, diria que a depressão pós-férias existe? Este é o melhor termo?
Embora a “depressão pós-férias” não esteja contemplada como um diagnóstico formal no DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, APA), o termo é frequentemente utilizado para descrever um conjunto de sintomas que muitas pessoas experimentam após o retorno das férias. Estes sintomas incluem sentimentos de tristeza, desmotivação e dificuldade em voltar à rotina. Embora não seja uma depressão no sentido clínico, os efeitos de ressaca emocional são bem reais e podem limitar significativamente a qualidade de vida. É comum que as pessoas sintam cansaço ou falta de energia para enfrentar os problemas que foram ligeiramente adiados durante as férias.
O conceito de “depressão pós-férias” é amplamente reconhecido pelo público geral, mas alguns especialistas preferem chamar-lhe “síndrome pós-férias” ou “blues pós-férias”, sublinhando que se trata de uma condição temporária e geralmente leve. Contudo, isso não diminui o impacto emocional que esta experiência pode ter, especialmente quando interfere com o bem-estar e a capacidade de retomar a vida quotidiana com a mesma vitalidade.
2. É possível prevenir?
Sim, é possível prevenir a depressão pós-férias, ou pelo menos mitigar os seus efeitos. Planear a transição de volta ao trabalho com antecedência, como regressar uns dias antes do início das atividades profissionais para se adaptar ao ritmo, é uma boa prática. Além disso, manter alguns aspetos positivos das férias, como momentos de lazer ou pequenas escapadelas no fim de semana, pode ajudar a manter o ânimo elevado. Em alguns casos, a prática de técnicas de relaxamento, como a hipnose clínica de regressão, pode ser muito útil para preparar a mente para esta transição, permitindo aceder a estados mais profundos do subconsciente e promover um maior equilíbrio emocional.
3. Por que é que ficamos tão tristes com o regresso à rotina e ao trabalho?
Ficamos tristes com o regresso à rotina porque as férias representam uma pausa das responsabilidades e do stress do dia a dia. Durante este período, temos a oportunidade de descansar, socializar e explorar novos ambientes, o que aumenta os níveis de dopamina e reduz o stress. O regresso à rotina pode parecer monótono e exigir um reajuste físico e emocional. Além disso, se o ambiente de trabalho for desafiador ou insatisfatório, essa transição torna-se ainda mais difícil.
4. Esta tristeza pode acabar por ter consequências físicas? Quais?
Sim, essa tristeza pode ter consequências físicas. Os sintomas emocionais, como tristeza e desmotivação, podem manifestar-se fisicamente, resultando em fadiga, insónia, dores de cabeça e até problemas gastrointestinais. O stress associado ao retorno ao trabalho também pode agravar problemas de saúde existentes, como hipertensão ou doenças cardíacas. Por isso, é importante levar a sério os sinais de alerta e adotar medidas que promovam o bem-estar.
5. É normal sentirmos que precisamos de férias das férias?
Sim, é perfeitamente normal. Muitas vezes, as férias podem ser tão intensas, cheias de atividades e compromissos, que o regresso à rotina parece ser mais cansativo do que deveria. Este sentimento pode ser um sinal de que, embora as férias sejam um tempo de lazer, também é necessário incluir momentos de verdadeiro descanso e reflexão. A necessidade de “férias das férias” é um reflexo da falta de equilíbrio entre atividades de lazer e descanso real.
6. Como podemos aligeirar a readaptação ao ritmo do trabalho? Pode dar-nos algumas dicas práticas?
Para aligeirar a readaptação ao ritmo do trabalho, é útil implementar algumas estratégias práticas, mas bastante simples, que podem trazer resultados interessantes:
– Regresso gradual: Se possível, comece a trabalhar a meio da semana para uma adaptação mais suave.
– Manter hábitos saudáveis: Continue a praticar atividades físicas e hobbies que lhe tragam prazer, mesmo durante a semana de trabalho.
– Definir objetivos pequenos: Divida as tarefas em partes menores para evitar a sensação de sobrecarga.
– Criar novos desafios: Introduza pequenas mudanças ou desafios no trabalho para torná-lo mais interessante e evitar a monotonia.
– Considerar apoio terapêutico: Terapias como a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) podem ser muito eficazes para reestruturar pensamentos negativos associados ao regresso à rotina. A hipnose clínica de regressão, com inspiração psicanalítica, pode também ser uma ferramenta poderosa para explorar o subconsciente e resolver conflitos internos que possam estar a amplificar a sensação de desconforto. Esta técnica ajuda a entender e a transformar padrões emocionais que dificultam o retorno ao dia a dia, promovendo uma adaptação mais harmoniosa.
7. E como recuperar o ânimo?
Recuperar o ânimo passa por integrar no seu dia a dia atividades que lhe dão prazer e significado. Estabeleça novas metas pessoais e profissionais que lhe tragam entusiasmo. Mantenha-se ligado aos amigos e familiares, pois o apoio social é fundamental para o bem-estar emocional. O autocuidado, como dormir bem, alimentar-se de forma equilibrada e praticar exercício, também é crucial para restaurar a energia e o bom humor. Se sentir que o desânimo persiste, a hipnose clínica de regressão pode ser uma ferramenta transformadora, ajudando a desbloquear emoções reprimidas e a reativar a motivação.
8. Em que casos pode ser necessário pedir ajuda ou reavaliar a situação profissional?
Se os sentimentos de tristeza, desmotivação ou ansiedade persistirem por várias semanas e interferirem com a sua capacidade de funcionar normalmente, pode ser necessário procurar ajuda profissional. Um psicólogo pode ajudar a identificar as causas desses sentimentos e a desenvolver estratégias para lidar com eles. A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) é especialmente útil para reestruturar padrões de pensamento negativos. Além disso, a hipnose clínica de regressão pode oferecer uma abordagem mais profunda, explorando a raiz dos sentimentos de insatisfação e facilitando a cura. Se o regresso ao trabalho desencadear um desconforto significativo, pode ser o momento de reavaliar a sua situação profissional. Pergunte a si mesma/o se está satisfeito com o que faz e se o ambiente de trabalho é saudável. Às vezes, esses sentimentos são um sinal de que mudanças maiores são necessárias.
9. Algo a acrescentar?
Gostaria de salientar que as férias são por natureza um momento de pausa e para recarregar as energias. Todavia convém lembrar que bem-estar e a saúde mental deve ser uma prioridade constante, não apenas em tempos de pausa. Incorporar momentos de relaxamento e prazer ao longo do ano pode ajudar a manter um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. E, sobretudo, reconhecer que cuidar da saúde mental é fundamental para uma vida plena e satisfatória.
Usando a máxima oriental, “não tentes controlar a tempestade de fora, pois não consegues, mas podes abrandar e aquietar-te até a tempestade passar,” percebemos que o verdadeiro poder reside na nossa capacidade de transformar o nosso mundo interior. Atualmente, existe uma variedade de técnicas naturais e práticas orientais que têm tido enorme sucesso, reconhecidas pelos excelentes resultados que proporcionam na gestão do stress e na promoção do bem-estar emocional. E o que todas elas têm em comum? Na verdade, estas práticas pedem para abrandar, centrar-se no presente e criar uma atmosfera interior de paz, equilíbrio e harmonia. E isso faz toda a diferença.
Ao invés de recorrer a psicofármacos que, na maioria das vezes, apenas escondem o verdadeiro problema e anestesiam as emoções, estas práticas oferecem uma forma de enfrentar e compreender o que realmente está a acontecer dentro de nós. Nesse sentido, técnicas como a meditação, mindfulness e hipnose clínica, especialmente a regressão, são abordagens poderosas para quem busca alternativas mais saudáveis e naturais para lidar com os desafios emocionais.
A hipnose clínica, e em particular a auto-hipnose, é uma interessante ferramenta que nos ajuda a aceder ao nosso subconsciente, onde residem muitos dos nossos padrões de comportamento e emoções reprimidas. Através da auto-hipnose, podemos reprogramar a mente para responder de forma mais positiva e adaptativa às situações de stress. A regressão hipnótica, inspirada pela psicanálise, permite-nos explorar a origem dos nossos problemas emocionais, muitas vezes enraizados em experiências passadas, e promover uma verdadeira cura emocional.
Estas técnicas, ao contrário dos psicofármacos, não mascaram os sintomas, mas ajudam-nos a enfrentar e a transformar as causas subjacentes do nosso sofrimento. Elas promovem uma forma de viver mais consciente e equilibrada, onde somos capazes de gerir as nossas emoções de maneira saudável e natural. Ao cultivarmos a paz interior, conseguimos não só enfrentar as tempestades externas com mais serenidade, mas também criar uma vida mais plena e satisfatória.
Alberto Lopes – neuropsicólogo/hipnoterapeuta
Responsável por: Clínica Dr. Alberto Lopes – Psicologia & Hipnose Clínica
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